segunda-feira, 14 de maio de 2012

3 coisas que M.A.P. sabe sobre livros


3 coisas que Manuel António Pina sabe sobre livros
1.       – O fatigado quotidiano da tipografia, o vaivém dos aprendizes transportando o chumbo e as resmas de papel, a formidável destreza das mãos, rudes e sujas, dos caixistas, os olhos cansados dos revisores, os rostos afogueados dos impressores, a ruidosa rotina dos prelos, a ciência dos encadernadores, o cansaço mal pago dos empregados de armazém e dos carregadores e, finalmente, o vigilante labor dos livreiros e tudo para, quantas vezes, o leitor ficar a saber, que o poeta X passou a noite na alcova de uma qualquer Elvira. Em resumo: escrever e publicar certos livros deveria cair sobre a alçada do Código Penal.
2.       – Não se deve pedir de mais aos livros. A sabedoria das palavras é feita de irrisão e do silêncio, de liberdade e de desnecessidade, e que,  mesmo que as palavras e os livros possam empurrar o mundo, nem umas nem outros gostam de ser empurrados.
3.       – Ler é um ato de amor. Um dos piores crimes praticados contra os livros é obrigarmo-nos a lê-los. Alguns dos mais iletrados saídos das Faculdades de Letras obtiveram os “bons com distinção” a devorar livros sem gostar de literatura nem de livros.

Adaptado da crónica habitual da  “Notícias Magazine” de sábado, 12 de maio de 2012.
As imagens foram tiradas do Google.

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