2 de abril de 2020, Atei, Mondim de Basto
Tenho pensado muito no que está a acontecer
ao planeta e é inconformante estarmos a passar por uma doença que nem nos nossos
sonhos mais negros pensamos viver porque, sabes, o ser humano tem a particularidade de pensar
que é imune a tudo e que só os mais vulneráveis passam por tragédias.
Confesso-te que quando soube
que as escolas iriam encerrar por causa desta pandemia, não escondo que até
fiquei feliz, mas foi momentaneamente, porque rapidamente me apercebi da catástrofe
que consumia o planeta. Na minha cabeça tem passado um rebuliço, não sei muito bem
o que pensar em relação ao que está a acontecer. Às vezes sinto-me indignada, revoltada,
angustiada por estar presa em casa e ver a doença proliferar a cada dia, outras
vezes sinto-me esperançosa e apta para contornar esta situação, pois sei que não se avizinham tempos fáceis,
aliás o que é que é fácil perante este cenário? Nada, absolutamente nada. De
que vale haver tanta hipocrisia e ganância se um ser microscópico consegue
roubar- nos até aquilo que desvalorizamos e já tomávamos por garantido: a nossa
liberdade? Pode até parecer egoísta o
que vou dizer, mas não encontro outro motivo senão este: sabemos que os
principais infetados são os mais frágeis e idosos, por isso e sem querer julgar
ninguém, será que este vírus não terá sido criado experimentalmente para
alargar a economia? Pensemos: com menos idosos torna-se mais fácil um
crescimento económico, as pessoas em casa tanto tempo juntas reproduzem e os
jovens aumentariam a economia e isso não
terá movido a ira de poder dos governantes? Pode até parecer uma ideia
descabida mas convenhamos que até tem um fundo de razão. Outra situação que me
enerva muito é a constante notícia sobre o avanço deste ser. Nós, eu e a minha
família, costumávamos jantar e ouvir notícias trágicas de violência doméstica,
violações, raptos, mortes ou política.
AGORA, agora só ouvimos falar nesta maldita criatura que despedaça o
nosso corpo e nos prende numa gaiola, a nossa casa. Deixamos de poder abraçar
quem amamos, deixamos de poder respirar ar puro, deixamos de poder fazer coisas
simples que não valorizávamos e que afinal são tão importantes. É claro que
este vírus trouxe uma boa nova, a diminuição da poluição atmosférica, do
consumismo mas também invadiu casas de violência, sim porque a violência
doméstica vai aumentar disso não tenho dúvidas, as pessoas deixam de puder
despedir- se de quem amam e dar um abraço de conforto a quem sofre, isso é
imoral e completamente repugnante . Outra situação que me incomoda é a falta de
ação de certos governantes como o Bolsonaro que vêm o país despedaçar-se e não
tomam atitudes. Mexam-se otários, vocês podem até ser mais poderosos que o povo
que governam mas isso não vos torna imunes. É preferível manter a economia, não
é, mais vale dois milhões no bolso que proteger a comunidade. Vocês que não fazem nada para
travar este vírus estão à espera de quê? De um tornado de medicamentos e
vacinas que passe nos vossos países faça magia e plim plim pim, acabou-se, ou
então estão à espera de acordar de um pesadelo. NÃO É UM PESADELO, É REAL SE
QUEREM SER INFETADOS SEJAM SÓ NÃO COMPROMETAM A SOBREVIVÊNCIA DOS OUTROS POR
DINHEIRO. Dinheiro não enriquece pessoas desfavorecidas, dá-lhes esperança,
dinheiro não compra tudo nem mesmo a falta de escrúpulos e coração deste tipo
de seres humanos, compra apenas a ignorância de quem vive exilado em poder e
conveniência. Cresçam e ajam, não precisamos de dinheiro, precisamos de saúde e
saúde não se compra, conquistasse e preservasse.
Não posso deixar de referir a imprescindível resistência
e força dos profissionais de saúde que sacrificam a vida por todos os infetados
correndo risco de contrair a doença e passá-la a que mais amam. Também não
podemos esquecer-nos das aprendizagens: aprendemos que somos dependentes uns
dos outros e que sozinhos não podemos nada contra este vírus e ainda percebemos
a desvalorização que damos a tudo o que nos rodeia, por darmos valor a coisas
materiais porque resultam de investimento. É revoltante saber que só perante
este cenário de guerra é que o ser humano aprendeu a dar valor à família, aos
amigos e à liberdade.
Que todos saibamos aproveitar a
presença desnecessária mas reveladora deste ser microscópio que tanto contra
nós pode. Percebemos afinal que somos uns míseros obedientes de nada, porque
tivemos de desfazer planos, separar-nos de quem mais amamos e aprender a
respeitar que não somos nada neste mundo contra seres unicelulares, eles podem
ser pequenos mais são mais fortes que nós e só todos juntos em igualdade
podemos vencê-lo. Obrigada a todos os que aproveitam a sua liberdade para
acolher que mais precisa, isto não é uma brincadeira, é uma guerra e a frente
inimiga não veio em desvantagem nem para perder. TODOS JUNTOS VAMOS VENCÊ-LO,
NÃO HÁ POBRES NEM RICOS, NEM DEPUTADOS NEM IMUNES, HÁ SERES HUMANOS FORTES QUE
CUMPREM A QUARENTENA E PROTEGEM QUEM TODOS OS DIAS LUTA PARA POR UM FIM A ESTE
PROBLEMA. AGRADECER NUNCA SERÁ SUFICIENTE, É IMORAL BATERMOS PALMAS E
RENEGARMOS A NOSSA OBRIGAÇÃO: FICAR EM CASA E PROTEGER OS NOSSOS E OS OUTROS,
SOMOS TODOS UM E NINGUÉM ESTÁ SOZINHO.
Espero por notícias melhores e
enquanto isso aproveita esta enfadonha e azarenta quarentena para pensar,
proteger-me e aprender. Obrigada por me ouvires Lua, até lá, stay safe please.
Da
tua Inês.
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