terça-feira, 28 de abril de 2020


Querida Lua,                                                               
                              2 de abril de 2020, Atei, Mondim de Basto
                Tenho pensado muito no que está a acontecer ao planeta e é inconformante estarmos a passar por uma doença que nem nos nossos sonhos mais negros pensamos viver porque, sabes,  o ser humano tem a particularidade de pensar que é imune a tudo e que só os mais vulneráveis passam por tragédias.
Confesso-te que quando soube que as escolas iriam encerrar por causa desta pandemia, não escondo que até fiquei feliz, mas foi momentaneamente,  porque rapidamente me apercebi da catástrofe que consumia o planeta. Na minha cabeça tem passado um rebuliço, não sei muito bem o que pensar em relação ao que está a acontecer. Às  vezes sinto-me indignada, revoltada, angustiada por estar presa em casa e ver a doença proliferar a cada dia, outras vezes sinto-me esperançosa e apta para contornar esta situação,  pois sei que não se avizinham tempos fáceis, aliás o que é que é fácil perante este cenário? Nada, absolutamente nada. De que vale haver tanta hipocrisia e ganância se um ser microscópico consegue roubar- nos até aquilo que desvalorizamos e já tomávamos por garantido: a nossa liberdade?  Pode até parecer egoísta o que vou dizer, mas não encontro outro motivo senão este: sabemos que os principais infetados são os mais frágeis e idosos, por isso e sem querer julgar ninguém, será que este vírus não terá sido criado experimentalmente para alargar a economia? Pensemos: com menos idosos torna-se mais fácil um crescimento económico, as pessoas em casa tanto tempo juntas reproduzem e os jovens aumentariam a economia  e isso não terá movido a ira de poder dos governantes? Pode até parecer uma ideia descabida mas convenhamos que até tem um fundo de razão. Outra situação que me enerva muito é a constante notícia sobre o avanço deste ser. Nós, eu e a minha família, costumávamos jantar e ouvir notícias trágicas de violência doméstica, violações, raptos, mortes ou política.   AGORA, agora só ouvimos falar nesta maldita criatura que despedaça o nosso corpo e nos prende numa gaiola, a nossa casa. Deixamos de poder abraçar quem amamos, deixamos de poder respirar ar puro, deixamos de poder fazer coisas simples que não valorizávamos e que afinal são tão importantes. É claro que este vírus trouxe uma boa nova, a diminuição da poluição atmosférica, do consumismo mas também invadiu casas de violência, sim porque a violência doméstica vai aumentar disso não tenho dúvidas, as pessoas deixam de puder despedir- se de quem amam e dar um abraço de conforto a quem sofre, isso é imoral e completamente repugnante . Outra situação que me incomoda é a falta de ação de certos governantes como o Bolsonaro que vêm o país despedaçar-se e não tomam atitudes. Mexam-se otários, vocês podem até ser mais poderosos que o povo que governam mas isso não vos torna imunes. É preferível manter a economia, não é,  mais vale dois milhões  no bolso que proteger  a comunidade. Vocês que não fazem nada para travar este vírus estão à espera de quê? De um tornado de medicamentos e vacinas que passe nos vossos países faça magia e plim plim pim, acabou-se, ou então estão à espera de acordar de um pesadelo. NÃO É UM PESADELO, É REAL SE QUEREM SER INFETADOS SEJAM SÓ NÃO COMPROMETAM A SOBREVIVÊNCIA DOS OUTROS POR DINHEIRO. Dinheiro não enriquece pessoas desfavorecidas, dá-lhes esperança, dinheiro não compra tudo nem mesmo a falta de escrúpulos e coração deste tipo de seres humanos, compra apenas a ignorância de quem vive exilado em poder e conveniência. Cresçam e ajam, não precisamos de dinheiro, precisamos de saúde e saúde não se compra, conquistasse e preservasse.
Não posso  deixar de referir a imprescindível resistência e força dos profissionais de saúde que sacrificam a vida por todos os infetados correndo risco de contrair a doença e passá-la a que mais amam. Também não podemos esquecer-nos das aprendizagens: aprendemos que somos dependentes uns dos outros e que sozinhos não podemos nada contra este vírus e ainda percebemos a desvalorização que damos a tudo o que nos rodeia, por darmos valor a coisas materiais porque resultam de investimento. É revoltante saber que só perante este cenário de guerra é que o ser humano aprendeu a dar valor à família, aos amigos e à liberdade.
Que todos saibamos aproveitar a presença desnecessária mas reveladora deste ser microscópio que tanto contra nós pode. Percebemos afinal que somos uns míseros obedientes de nada, porque tivemos de desfazer planos, separar-nos de quem mais amamos e aprender a respeitar que não somos nada neste mundo contra seres unicelulares, eles podem ser pequenos mais são mais fortes que nós e só todos juntos em igualdade podemos vencê-lo. Obrigada a todos os que aproveitam a sua liberdade para acolher que mais precisa, isto não é uma brincadeira, é uma guerra e a frente inimiga não veio em desvantagem nem para perder. TODOS JUNTOS VAMOS VENCÊ-LO, NÃO HÁ POBRES NEM RICOS, NEM DEPUTADOS NEM IMUNES, HÁ SERES HUMANOS FORTES QUE CUMPREM A QUARENTENA E PROTEGEM QUEM TODOS OS DIAS LUTA PARA POR UM FIM A ESTE PROBLEMA. AGRADECER NUNCA SERÁ SUFICIENTE, É IMORAL BATERMOS PALMAS E RENEGARMOS A NOSSA OBRIGAÇÃO: FICAR EM CASA E PROTEGER OS NOSSOS E OS OUTROS, SOMOS TODOS UM E NINGUÉM ESTÁ SOZINHO.
Espero por notícias melhores e enquanto isso aproveita esta enfadonha e azarenta quarentena para pensar, proteger-me e aprender. Obrigada por me ouvires Lua, até lá, stay safe please.
                                                                                                                                               Da tua Inês.

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